Em 31 de dezembro de 2019, as operadoras de telefonia móvel possivelmente desligarão, parcial ou completamente, o sinal 2G no país. Parece longe, mas se considerarmos a velocidade de adoção de novas tecnologias de conexão à internet em localidades mais distantes do país, 07 meses é muito pouco tempo.
O que deverá acontecer com as localidades onde
essa frequência é a única forma de conexão com a Internet? Não existe nenhum compromisso
firmado entre as operadoras e a Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) de manter ou
desligar a tecnologia 2G (GSM) após essa data. A única obrigação refere-se à abrangência
de cobertura da telefonia móvel utilizando tecnologia de 3ª Geração (3G), que
deve estar presente em todos os municípios até o final deste ano. É importante
frisar que o início da operação 5G no Brasil está marcado para 2020, ou seja,
logo em seguida, o que irá demandar um enorme investimento por parte das
operadoras em uma nova tecnologia que levará anos para apresentar uma grande
cobertura nacional. Neste meio tempo, a implantação do 4G segue avançando e já
apresenta cobertura maior que o 3G em algumas operadoras, como a TIM.
Com isso, as localidades
atendidas apenas pela tecnologia 2G terão que migrar integralmente para o sinal
3G ou superior, por conta do simples reaproveitamento de antenas. A questão que
fica é: o que acontece com os equipamentos compatíveis apenas com 2G? E a resposta é simples: terão que ser
substituídos, pois deixarão de funcionar.
Segundo o relatório da Anatel referente à Evolução
das Tecnologias das Operadoras Móveis, publicado em dezembro/2018, a Quantidade de Acessos 2G (GSM) no Brasil contava com cerca de 24,850 milhões
de conexões, ou 23,34% a menos do que dezembro de 2017. Vide os gráficos
abaixo.
Evolução do Número de Acessos no Tempo
Fonte:
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
- http://www.anatel.gov.br/dados/acessos-telefonia-movel
O ritmo de queda na ordem dos 30% vem se verificando
desde o início do ano passado, pois ao comparar-se a base de conexões 2G de janeiro
de 2018 (31,376 milhões) com a base de acessos 2G referente a janeiro de 2017
nota-se uma queda de 32,1% de conexões. Esta queda está intimamente ligada à
ampliação da rede 3G e, principalmente, à evolução da tecnologia embarcada nos
smartphones, que há muito tempo migraram para tecnologias 3G e superiores. Vale lembrar que a
tendência de baixa das conexões 2G teve início em janeiro de 2012, mantendo-se contínua
desde então (as únicas exceções ocorreram em fevereiro e dezembro de 2012,
quando houve acréscimos de 430 mil e 5,4 milhões de novos acessos 2G,
respectivamente). Porém, esse processo de substituição dos acessos 2G, por
parte dos usuários vem ocorrendo em um ritmo mais acelerado a partir do início
de 2014.
Evolução Anual – Tecnologia 2G (GSM)
|
||
Mês/Ano
|
Acessos
|
Decréscimo %
|
Jan/2009
|
134,5
Mi
|
-
|
Jan/2010
|
155,6
Mi
|
(15,7)%
|
Jan/2011
|
178,6
Mi
|
(14,8)%
|
Jan/2012
|
198,6
Mi
|
(11,2)%
|
Jan/2013
|
194,6
Mi
|
2,0%
|
Jan/2014
|
157,6
Mi
|
19,0%
|
Jan/2015
|
108,7
Mi
|
31,0%
|
Jan/2016
|
64,4
Mi
|
40,8%
|
Jan/2017
|
46,2
Mi
|
28,3%
|
Jan/2018
|
31,4
Mi
|
32,1%
|
Jan/2019
|
23,9
Mi
|
23,8%
|
Fonte: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - http://www.anatel.gov.br/dados/acessos-telefonia-movel
Mesmo que seja mantido o ritmo atual de redução
(aproximadamente 30% ao ano entre 2014 e 2019), a tecnologia de telefonia móvel
de segunda geração ainda apresentaria mais de 400 mil conexões em janeiro de 2030,
caso não fosse desligada abruptamente. Ou seja, não haveria desligamento no
curto prazo se dependermos unicamente do lado consumidor.
O desligamento parcial ou total do 2G no curto prazo, como aconteceu nos Estados Unidos, aparentemente não consta nos planos das operadoras brasileiras.
Na verdade, diferentemente dos EUA, Europa e
Ásia, onde as operadoras informaram com a devida antecedência as datas
planejadas para o desligamento de suas redes 2G, na América Latina não há
informação sobre o calendário de descontinuidade da tecnologia de segunda
geração.
No Brasil, elas têm investido muito no incentivo
ao uso do 4G e na expansão da rede 3G, o que certamente contribui para acelerar
o processo de migração do 2G. Todavia este esforço não será suficiente para eliminar
a cobertura de segunda geração. Esta visão está alicerçada no fato de que
equipamentos baseados em tecnologia 2G ainda são fabricados e vendidos em nosso
país.
Pouco menos de 10% dos municípios brasileiros –
cerca de 500 cidades - têm sua telefonia celular operando somente em 2G (GSM).
São lugares aonde as frequências 3G e 4G ainda não chegaram.
Além disso, as operadoras de telefonia têm
outro cronograma: extinguir o sinal 3G antes do 2G, pois a atualização da 3G
para a 4G é automática nos equipamentos conectados (telefones e máquinas de
cartão). Para extinguir o 2G, as operadoras teriam que investir em
infraestrutura, pois não é possível fazer a migração automática. E se o 2G
fosse extinto, o que aconteceria com os negócios que utilizam maquininhas de
cartão ou celulares que se conectam à internet nessa frequência? Certamente,
prejuízo. De acordo com a Teleco (http://www.teleco.com.br/m2m.asp - fonte Anatel), em janeiro de 2019 havia 11,70
milhões de POS conectados no Brasil, sendo aproximadamente 70% baseados em
conectividade 2G, ou seja, estamos falando de um apagão de mais de 8,19 milhões
de POS.
Uma vez que, basicamente, a escolha do
adquirente (e sub-adquirente) de cartão de crédito pelo POS 2G leva em conta o
menor custo do módulo de comunicação e consequentemente menor preço do POS, o
incentivo à evolução tecnológica deveria também abranger uma espécie de “MP do
Bem” focada na desoneração tributária de equipamentos 3G e superiores.
Ainda de acordo com a Teleco (http://www.teleco.com.br/cobertura.asp), que tem como fonte Anatel e Operadoras de Telecomunicações, todos os municípios
brasileiros contam com cobertura celular no Brasil, sendo 100% deles cobertos
pelo 2G, como mostra a tabela a seguir.
Fonte: Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel)
e Operadoras (atualizado em fevereiro 2019)
Por outro lado, sabe-se que as operadoras estão migrando o sinal 2G para 3G em várias localidades. Essa mudança impacta diretamente no funcionamento de dispositivos compatíveis apenas com o sinal 2G, principalmente os acessos M2M (Machine-to-Machine), ainda majoritariamente baseados na tecnologia móvel de segunda geração. É o caso dos POS (máquinas de cartão de crédito), cujas máquinas com modem 2G ainda são vendidas no Brasil.
Diante desse cenário, é necessário promover um
debate nacional sobre como deve ser o planejamento para a migração para novas
tecnologias de conectividade de celular para auxiliar empresas cujos negócios
fazem uso de dispositivos móveis.
Uma vez que não se consegue encontrar no site
da Anatel ou das operadoras um cronograma detalhando o processo de desligamento
do 2G no país, precisamos dar luz à questão.
Afinal, apesar de a 2G ser uma tecnologia de
rede presente há 30 anos no mercado e que não atende mais à demanda atual por
inovação da conectividade móvel, o país precisa contar com um processo de
migração tecnológica dotado de total transparência, apresentando um cronograma
de desligamento listando operadoras, cidades e respectivas datas, a fim de
minimizarmos transtornos, downtime e,
principalmente, investimentos tardios em tecnologias em obsolescência.